sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pensamentos

Tenho lido muito textos jornalísticos na internet. Nunca li tantos comentários sobre as matérias. E estou completamente convencida de que a única saída para o Brasil é radicalizar na educação. Acabei de ver no yahoo que uma das propostas da Marina (não sei se são propostas do PV) é a de que sejam destinados 7% do PIB para investimentos em educação.

Taí uma coisa boa. Vi muitos textos curtos escritos pelas pessoas e muitos deles exibem uma característica comum: uma argumentação baseada no senso comum e no preconceito. Os comentários deveriam procurar estar, na medida do possível, à altura do texto comentado, dialogando com ele, mas não é o que acontece. A produção textual de muitas pessoas se caracteriza por não ser um diálogo com o texto que estão lendo, um texto que foi pensado e organizado para apresentar argumentos em uma certa direção. O que parece importar para muitos leitores não é considerar (isto não significa aceitar, significa levar em consideração, parar refletir sobre eles) esses argumentos,  mas simplesmente desqualificá-los, sem outros argumentos mais diretamente  relacionados com aquilo que foi apresentado.

Um exemplo:  sobre um texto que argumenta sobre a questão da liberdade de expressão no Brasil ( http://colunistas.yahoo.net/posts/5573.html) um leitor responde:

Há quase 2 anos o Presidente encontra-se em plena campanha eleitoral. Agora parece se valer da condição de aposentado, ocupando todo o seu tempo com a campanha eleitoral, ao invés de governar. Esse PROJETO DE PODER desse partido não pode ganar mais força, sob pena de o Brasil deixar de ser do povo e passar a ter um único e egocêntrico dono.
Vote 45!!!

A argumentação e o tópico principal  do texto comentado são completamente ignorados pelo leitor. É uma pena mesmo porque seria possível comentar, por exemplo, qual é (ou deveria ser) o papel de um chefe de estado na eleição para sua sucessão e o que isto pode ter a ver com o problema da liberdade de expressão e de imprensa. Mas não é isso que acontece. Há uma enorme brutalidade na interação pela internet, uma violência descabida e desproporcional, uma necessidade de ver quem grita mais alto.

O comentário postado é completamente equivocado em uma série de aspectos porque não apresenta uma formulação que leve a conclusão embasada na nossa realidade politica e social. Mas o que importa é: como fazer com que esse tipo de procedimento não seja a tônica? Como fazer com que os membros de diferentes comunidades possam defender racionalmente e sem apelo a preconceitos uma idéia?

É uma tarefa de muitos anos, de gerações. Precisamos nos dedicar a isto.

Ontem, ganhei um livro. Educação como exercício do poder: critica ao senso comum em educação, de Vitor Paro. Recomendo e fico muito contente em ver que estamos no caminho. Mas é duro ver que depois de oito anos de um grande investimento na melhoria das condições de vida das pessoas desse país, a gente tenha que constatar que não podemos ficar muito otimistas não... Penso que a mentalidade e as práticas escravocratas continuam a existir dentro de cada um de nós e que elas são muito difíceis de não serem reproduzidas e perpretadas muitas e muitas vezes. O pior mesmo é que isto acontece sem que se tenha a menor vergonha de mostrar a verdadeira face dessas práticas: brutais, mortais em relação à qualquer forma de vida.

Mas é preciso ter força e coragem de enfrentar esse gigante e isso só pode ser feito com educação, educação, educação...

Viva Paulo Freire!!!!

Um comentário:

  1. Anna, ótimo texto. E destaco uma parte:

    "Há uma enorme brutalidade na interação pela internet, uma violência descabida e desproporcional, uma necessidade de ver quem grita mais alto"

    E será que isso não é apenas um reflexo do que acontece fora da internet? Há tempos eu digo que comentários de blogs e jornais merecem estudos de mestrado e doutorado...

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